A oportunidade contará com Raul Córdula e marca as homenagens a este artista paraibano, filho da Rainha da Borborema, celebrando os 80 anos dele. Assim, quem visitar a exposição fará um passeio pelas memórias e traçados de Raul, a exemplo da série “Araguaia” – de teor político, ela relembra as agruras do período da Ditadura Militar. Também estarão lá obras de cunho mais intimista e pessoal, trazendo à tona os meandros de seu processo criativo.
“Raul Córdula, Raros, múltiplos – Arte sobre papel” tem curadoria de Diógenes Chaves e Rebeca Souza. Para o primeiro, a atuação de Raul à frente de empreitadas como o Museu de Arte Assis Chateaubriand (MAAC), em Campina, e anos depois, do Núcleo de Arte Contemporânea da Universidade Federal da Paraíba (NAC-UFPB), são a mais pura declaração da grandeza do artista para todas as gerações. “Ora, sabe-se que para melhor entender a arte (e sua história) é preciso definir pilares, ícones, momentos seminais. Pois, esses dois acontecimentos são, de fato, o que justificam a forte presença do nosso território, da nossa produção de arte no cenário nacional”, informou Diógenes, pontuando que “ele [Raul] foi a melhor pessoa que me atualizou/situou, verdadeiramente, acerca da arte na contemporaneidade”.
Rebeca Souza acrescentou que, nessa exposição, pode ser apreciado o mais singular de Córdula. “Tudo nos conta sobre suas narrativas, em formas, linhas e cores. Convidamos toda a população para vivenciar a obra de tão importante e histórico artista”, disse.
“Desenho da Terra” apresenta grafismos, vídeos, desenhos e colagens, tendo como ponto de partida repensar modos e fazeres, como um ato político, no sentido, especialmente, de “bagunçar estruturas para criar outras”, segundo Rebeca. “São trabalhos que enxergam o desenho como substância, resíduo, função, escrita. Assim, em suas inúmeras expressões, eles podem revelar, por exemplo, o caos em movimento, encontrando em meios como o nanquim preto, a carga material para as suas combinações, capazes de criar uma outra realidade. A propósito, diante de um contexto global em que se agravam as questões sociais e ambientais, a exposição deixa, ainda, a reflexão: pode o desenho contar/escavar mais uma história e somar às vozes que pretendem adiar o fim do mundo?”, questionou.
O diretor do MAPP e pró-reitor adjunto de cultura da UEPB, professor José Pereira da Silva, explicou que as duas exposições se alinham à missão do Museu, que é impulsionar a difusão da arte no Estado e proporcionar ao público experiências variadas nessa seara. “Em Campina, Raul Córdula é uma espécie de marca de excelência, é extremamente reconhecido pelo seu trabalho, que galgou projeção nacional. É extraordinário termos no Museu as obras desse artista essencial para o cenário criativo, tanto quando se fala em produção, como em gerência, administração de espaços, publicação. E, Rebeca Souza, anteriormente, deu uma contribuição para o nosso Museu, na exposição A Feira, que teve a colaboração dela, é uma artista jovem e bastante antenada ao seu tempo. Então são dois artistas distintos, de diferentes gerações, mas que se encontram pela atualidade, alinhados ao presente e ao porvir, no sentido e na importância da arte que realizam”, disse.
A 18ª edição do Festival Audiovisual começa na quinta-feira (14), sendo o tópico norteador do evento “O cinema em Super 8: Experimentações e Fruições”. O Comunicurtas é promovido pela UEPB, através da Coordenadoria de Comunicação (CODECOM), Departamento de Comunicação (DECOM) e realizado pela Ypuarana Cultural, Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB) e Associação Moleka 100 Vergonha, entre outros parceiros.
A visitação no MAPP acontece de terça a sexta-feira das 10 às 19h, e aos sábados e domingos das 14 às 19h. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (83) 3310-9738.
Mais sobre Rebeca Souza e Raul Córdula
Rebeca Souza é artista visual, educadora e curadora. Tem mestrado em Artes Visuais pelo PPGAV – UFPB/UFPE. É integrante do coletivo “Cinema Instantâneo”, diretora artística do Festival Comunicurtas e idealizadora do projeto “Clube da Escrita – Bruta(s) e Inacabada(s)”.
Nas palavras dela, “pesquisa visualidades, arte contemporânea, cinema, saberes tradicionais e estéticas-queers, dialogando com temáticas voltadas aos processos do desenho em sua compreensão como escrita, atrito, força e pensamento; à memória, afetos, ancestralidade, saberes ancestrais, cuidados e crenças”. Conforme detalhou, seu trabalho é composto por experimentações em vídeo, desenho, objetos, instalações, esculturas, performance e possibilidades do corpo.
Raul Córdula nasceu em Campina, em 1943. Fez sua primeira exposição na Biblioteca Pública de João Pessoa, em 1960. Segue estudando e praticando a pintura até a atualidade. Dentre os espaços em que esteve com suas exposições nacionais e internacionais figuram: Museu de Arte Assis Chateaubriand, Campina Grande, 1967; Museu de Arte Moderna da Bahia (BA), 1997; Museu da Pampulha, Belo Horizonte (MG), 1985; Galeria Sergio Milliet, Funarte, Rio, 1982; Galeria de Arte Global, São Paulo, 1987; Espaço Cultural da Embaixada do Brasil Galerie Le Cube, em Paris; Association Culturel Lé Hors-Là, Marseille; Staatliche Kunsthalle Berlin e Galeria Einstein, Berlin.
Trabalhou como diretor do setor de Artes Plásticas do Departamento Cultural da UFPB, entre 1963 e 1965; foi diretor fundador do Museu de Arte Assis Chateaubriand, em Campina, em 1967; coordenou o Núcleo de Arte Contemporânea – NAC/UFPB, entre 1978 e 1985; foi diretor artístico e diretor técnico da Oficina Guaianases de Gravura, em Olinda, entre 1982 e 1984; e diretor de Desenvolvimento Artístico e Cultural da Fundação Espaço Cultural da Paraíba -Funesc, entre 1997 e 1998, dentre inúmeras funções desempenhadas ao longo de sua trajetória profissional.
Também escreveu “Os Anos 60, aspectos das artes plásticas na Paraíba”, edição Funarte, 1880, em coautoria com o professor e artista plástico Chico Pereira; “Almanac” – por meio da Funarte/UFPB; “Fragmentos” – através da Funesc, em 1997; “Caminhos de Pedra”, edição URB/Recife, em coautoria com Betânia Luna e Jane Pinheiro; “Memórias do Olhar” – João Pessoa, 2009, pela Editora Linha D’Água; “Utopia do Olhar” – Funcultura, 2013; e “Esboços/Sketches”, Funcultura, 2015, entre outras publicações.
Foi laureado várias vezes, através, por exemplo, do Prêmio de Desenho, no Salão da Jovem Arte de Campinas/SP, em 1966; do 19º Salão de Arte Global de Pernambuco, Prêmio MEC, em 1974; do XXXVI Salão de Artes Plásticas de Pernambuco – com o 1° Prêmio; e do Prêmio Gonzaga Duque, da Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA, 2010.
Além disso, recebeu da ABCA o Prêmio Destaque Nordeste 2022 e foi agraciado com a Medalha Augusto dos Anjos, da Assembleia Legislativa da Paraíba, em 2023, em razão dos 50 anos da obra, de sua autoria, que integra a fachada do prédio da Instituição, bem como pela passagem dos seus 80 anos.
Texto: Oziella Inocêncio